segunda-feira, 12 de julho de 2010

Meus pés


Meus Pés...
...nasceram assim
pequenos, frágeis, delicados
e exageradamente... apressados.
Eles tinham tanta pressa
que aceleraram a minha chegada.
Mas eles correram mais do que eu poderia acompanhar...
Eu e meus pés...
...ficamos assim
presos, protegidos, isolados, encubados.
Fomos machucados, marcados, furados,
e cada uma das marcas de dor
tinham o objetivo único de me manter vivo.
As dores eram amenizadas por cada gesto de carinho,
cada toque,
que mesmo sendo breves
me deixavam em contato
com a dona daquela barriga
de onde eu precisei sair com tanta pressa.
Por alguma razão,
sempre que a percebia por perto,
percebia também lágrimas e sorrisos.
Nossa relação,
Eu, meus pés e a dona da barriga,
foi construída assim...
...com toques, olhares, lágrimas e sorrisos.
Aos poucos nos aproximamos.
E nos separávamos sempre que disparava um alarme.
O alarme avisava que de tão relaxado
eu havia esquecido de respirar.
Meu coração queria parar de bater.
Minha pele mudava de cor.
Pra resolver?Um peteleco nos Meus Pés!
Aquilo me assustava... doía...
meus batimentos voltavam ao normal,
o alarme parava de soar e as lágrimas davam lugar aos sorrisos.
Entendi que do lado de fora daquela caixa plástica
estavam papai, mamãe, vovó...
...e uma equipe enorme, uniformizada, que torcia por mim.
Foram longos 70 dias.
Entendi muito cedo que a vida nos traz momentos de alegria e de dor
e que a dor é necessária à vida.
Meus pés sabem bem disso.
Foram muitos tropeços antes de aprender a caminhar...
Hoje, Meus Pés cresceram.
Abandonaram aquele chaveirinho colocado por brincadeira na encubadora
e agora calçam sapatinhos coloridos e carinhosamente escolhidos.
Ainda continuam apressados...
Querem correr atrás da vida...
...querem viver cada minuto...
...e vão construindo sua história.